quinta-feira, 5 de abril de 2012

noite

Julgava ser meia-noite. Caminhava em direcção a casa de costas curvadas, ar abatido e de passadas lentas como se os meus sapatos levassem chumbo. As lágrimas que corriam o meu rosto, numa tentativa de exibir a minha infelicidade e severa tristeza, corriam disfarçadas pela chuva que se fazia sentir intensamente.
Aquela hora da noite, a rua não era segura. Drogados e prostitutas vagueavam pelo bairro. Mendigos abrigavam-se como podiam da chuva e montavam a sua cama de uma noite. Empregados de restaurante fechavam as lojas. E depois de um longo dia de trabalho, finalmente voltavam a casa. E eu, caminhava. Tinha rota e destino, mas não tinha vontade nem desejo, simplesmente queria deitar-me à beira de uma poça, de uma sarjeta, render-me a clichés de deprimidos e abandonados, chorar pela vida, gritar que todos me devem e ninguém me paga, culpar a sociedade, culpar pais, mães, culpar quem tem culpa e quem não tem, mas sobretudo, culpar o amor. Amor. Esse sentimento ridículo e sem graça. Irresistível num dia, impossível nos outros. Deixei os meus pés guiarem-me. Detestava lojas de conveniência mas encontrar uma era mais que conveniente. Perfeito. Uma garrafa de vodka, Martini. Qualquer coisa. Bastava-me isso, a estrada e um camião.

Sem comentários:

Enviar um comentário